Projeto piloto de popularização da ciência sobre a diversidade de peixes inicia aplicação em escola da região do PAE Tapará
/Iniciativa implementa materiais didático-pedagógicos adaptados à realidade ribeirinha, regionalizando o ensino de diferentes disciplinas da educação básica do 1º ao 9º ano
A comunidade São Benedito, localizada na Costa do Tapará, região do PAE Tapará, em Santarém (PA), foi o ponto de partida para a aplicação piloto do projeto de popularização do conhecimento sobre a diversidade de peixes da bacia do Tapajós. A iniciativa, liderada pela Sapopema e Laboratório de Ictiologia da UFOPA, o Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND/UFOPA) em parceria com as Secretarias Municipais de Educação, Mopebam e demais organizações parceiras, busca regionalizar o ensino, integrando o conhecimento científico às realidades socioculturais das comunidades ribeirinhas.
A pesquisadora Samela Bonfim, do PPGSND/UFOPA e da Sapopema, explica que a proposta tem como base a regionalização dos conteúdos escolares por meio da biodiversidade local. O projeto articula ensino, ciência e cultura regional. “Os conteúdos de diferentes disciplinas são trabalhados de forma integrada, atrelando o conhecimento das disciplinas à realidade local.”
A coleção didático-pedagógica apresentada aos professores é composta por quatro produtos: um jogo da memória, um caderno de atividades multisseriadas, um guia ilustrado de espécies e um livro para colorir. “Cada material regionaliza o conteúdo da realidade socioambiental das comunidades e propõe atividades que unem alfabetização, matemática, história, geografia, ciências e educação ambiental”, explica. A aplicação piloto também tem caráter formativo. “O treinamento com os professores foi voltado para a aplicação prática dos produtos que serão avaliados e monitorados continuamente. As atividades vão integrar os planos de ensino das turmas do primeiro ao nono ano.”
Na Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Benedito, a gestora Edilene Ferreira de Souza destacou o entusiasmo da equipe docente com o material. “É um projeto muito rico, com ferramentas pedagógicas que auxiliam bastante nossos professores, porque o conteúdo é de fácil acesso para as crianças e de acordo com a realidade delas”, afirmou. Ela ressaltou que o material chega em um momento oportuno. “A gente está planejando um projeto voltado para o manejo do pirarucu. Esses materiais vieram em boa hora, porque vamos trabalhar em sala e depois levar as crianças para ver na prática durante a semana da pesca.”
A escola atende dez professores e turmas do ensino infantil ao fundamental, com forte vínculo com o manejo comunitário do pirarucu. A diretora observou que o uso de conteúdos regionais ajuda a despertar maior interesse dos estudantes. “Os materiais refletem a vida deles. Quando se fala da pesca, eles sabem responder porque é o cotidiano deles.”
O professor Cleodilson Oliveira, que leciona matemática há 24 anos, vê na proposta uma oportunidade de tornar os conteúdos mais próximos dos alunos. “É um projeto que vai dar certo. Dá pra fazer uma boa relação em sala com os conteúdos, principalmente na matemática, que trabalha com porcentagem, fração e outras operações”, disse. Para ele, a vivência local é um ponto de partida importante para o aprendizado. “Com um projeto desse tipo, os alunos passam a ter mais afinidade com o que está sendo mostrado. Isso só tem a somar.”
Já a professora Cleodiney Oliveira, que atua com o primeiro e o quarto ano, destacou que o material ajuda a trabalhar a alfabetização com base na vida comunitária. “Através dessa pesquisa, vamos trabalhar para que o aluno tenha um conhecimento real da vida da pesca aqui na comunidade. Ele vai aprender a cuidar do meio ambiente e compreender a importância da preservação dos lagos”, afirmou. Ela observou que o jogo da memória e as atividades de leitura chamaram atenção dos alunos. “O material atrai a habilidade e a atenção deles. Na alfabetização, ele ajuda a criança a aprender a ler, escrever e reconhecer a sua vida local.”
O projeto é fruto da pesquisa ação desenvolvida no âmbito do doutorado em ciências ambientais da Ufopa (PPGSND) pela doutoranda Samela Bonfim e orientada pelo Prof. Dr. Frank Raynner Vasconcelos Ribeiro. É uma articulação da Sapopema e UFOPA em parceria com o MOPEBAM, Secretaria Municipal de Educação de Santarém e apoio da Capes, The Nature Conservancy (TNC) e Fundação Moore. A experiência em São Benedito marca o início de uma série de aplicações que devem se expandir para outras escolas ribeirinhas dos municípios de Santarém, Belterra e Curuá. A proposta é fortalecer a educação ambiental e o pertencimento sociocultural, aproximando a ciência do cotidiano das comunidades que vivem e dependem dos ecossistemas aquáticos da região do Tapajós e em fases posteriores, Amazonas.