Projeto de fortalecimento da gestão comunitária dos recursos naturais na Amazônia é lançado em Santarém 

Evento marcou início das ações do projeto que une manejo de pesca, governança, formação de lideranças e comunicação popular na região dos rios Baixo Amazonas e Tapajós

Nos dias 28 e 29 de abril, cerca de setenta lideranças comunitárias, pescadores, jovens, representantes de organizações sociais e parceiros institucionais se reuniram em uma Chácara no Mararu (Santarém/PA), para o lançamento do projeto Gestão da Pesca Comunitária para Conservar os Ecossistemas de Água Doce e Florestais no Baixo Amazonas e Tapajós. A iniciativa, coordenada pela Sapopema com apoio da Fundação Fundação Gordon & Betty Moore, executado pela SAPOPEMA com financiamento da  e parceria do Mopebam, Ufopa e diversas instituições e movimentos sociais, teve como objetivo garantir a gestão sustentável dos recursos naturais em mais de 500 mil hectares de áreas de várzea e floresta.

A proposta articula quatro eixos estratégicos: manejo comunitário do pirarucu, quelônios e acari; fortalecimento da governança regional das pescarias; formação de lideranças com base no monitoramento adaptativo; e fortalecimento da comunicação comunitária por meio da formação de jovens repórteres dos rios e das florestas.

Durante o evento, os participantes se dividiram em grupos temáticos para discutir caminhos e desafios nos diferentes eixos de atuação. Houve também a entrega de equipamentos aos comunicadores comunitários e momentos de vivência cultural entre os participantes.

Segundo Antônio José Bentes, coordenador da Sapopema, o projeto representa uma nova etapa da atuação da organização, que amplia sua ação para toda a região do Baixo Amazonas. “Estamos iniciando uma proposta de desenvolvimento regional que valoriza a diversidade sociocultural — pescadores, extrativistas, quilombolas, indígenas, mulheres, jovens — e busca consolidar uma narrativa própria de socioeconomia da floresta e dos rios”, afirmou. Ele destaca que o fortalecimento das organizações locais e da governança territorial são pilares do projeto.

O Eixo 1 tem como objetivo fortalecer o manejo comunitário da pesca de espécies-chave como o pirarucu, o acari e os quelônios, para a conservação da biodiversidade no Baixo Amazonas. As ações se concentram em duas frentes: apoio técnico e formativo às comunidades que já manejam e capacitação em novas para adoção das práticas. No caso do pirarucu, as atividades envolvem formação em novas comunidades para implementação do manejo, além do fortalecimento das iniciativas já existentes. Em relação aos quelônios, estão previstos diagnósticos de áreas com potencial para manejo comunitário, bem como apoio às ações já em curso. Quanto ao acari, o componente busca o avanço na regulamentação da cadeia produtiva do piracuí, por meio da construção de protocolos de produção e da implementação de medidas que promovam o manejo sustentável, com ênfase no município de Prainha. O eixo também prevê o levantamento de dados sobre os impactos da seca e das mudanças climáticas na atividade pesqueira nos últimos anos, assim como a sistematização de informações referentes à pesca realizada em lagos regidos por acordos de manejo na região, explicou Neriane da Hora, responsável pelo componente.

Para Ivete Bastos, presidente do STTR de Santarém, a iniciativa chega em um momento crucial para a agricultura e os modos de vida tradicionais. “Estamos vivendo uma emergência climática que afeta nossa produção, nossos rios e nossa subsistência. Discutir reflorestamento, juventude e comunicação é gratificante. A gente se sente incluída e fortalecida na luta com esse projeto.”

Repórteres dos rios e das florestas com equipamentos para produção audiovisual. fotos: vanderson apurinan.

No eixo da comunicação, jovens de diversos territórios amazônicos receberam formação e equipamentos para iniciar a produção de conteúdos que retratem os desafios e potencialidades locais. Samela Bonfim, que coordena o componente de comunicação, ressaltou que os vinte e oito jovens comunicadores formados atuarão em onze municípios, produzindo conteúdos sobre temas como pesca, produção agroecológica, artesanato, meio ambiente e soluções comunitárias. “Esses jovens saem da formação com uma missão: visibilizar suas realidades e os saberes de seus territórios, com potencial de influenciar políticas e inspirar outras regiões”, explicou. O programa, prevê mentorias, visitas técnicas, vivências formativas e produção contínua de vídeos pelos comunicadores populares. 

Natália Dias, integrante da cooperativa Turiarte e repórter do programa, afirma que essa é uma oportunidade de ecoar as vozes das comunidades. “Me apaixonei ainda mais pelo audiovisual. Essa ferramenta ajuda a mostrar nossa realidade e divulgar os produtos e serviços da nossa cooperativa. Quero contar histórias com o olhar de uma mulher jovem da floresta.”

Jocenildo Filho, de Terra Santa, também participou da formação e celebrou a oportunidade: “Foi muito bom estar aqui e aprender mais sobre os quelônios, o manejo do pirarucu e os eixos do projeto. Levo esse conhecimento para minha comunidade com muita alegria.”

Segundo dia de atividades foi destinado à oficina prática dos repórteres comunitários.

A professora Kelly Cristina, pró-reitora de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), ressaltou o papel da universidade como parceira estratégica. “A voz de vocês não será calada. A UFOPA está de braços abertos para contribuir com uma região sustentável e socialmente responsável, onde possamos desenvolver conservando o que temos de melhor: o nosso povo.”

Com a colaboração de parceiros como Mopebam e Colônias de Pescadores, UFOPA, STTR-STM, Turiarte, Feagle, Amabela, CITA, Flores do Campo e AMTR, a iniciativa marca um novo momento para a construção coletiva de soluções locais para conservação ambiental e justiça social na Amazônia.

Fotos: Vanderson Apurinan.