Mulheres de Vila Brasil constroem viveiro para produção de mudas para reflorestamento

No Rio Arapiuns, a comunidade Vila Brasil está desenvolvendo ações de reflorestamento que unem conservação ambiental, fortalecimento do turismo de base comunitária e geração de renda com o artesanato. A iniciativa é parte do projeto Povos, Rios e Florestas, executado pela Sapopema com apoio da Fundação Moore e parceria da Feagle, e surgiu de uma demanda direta das comunidades

Em Vila Brasil, o protagonismo é das mulheres do grupo de artesanato, que decidiram reflorestar uma área da comunidade para garantir o acesso à mat

éria-prima — principalmente a fibra do tucumã — e para criar um espaço de visitação voltado ao turismo comunitário. O trabalho inclui a recuperação das margens do igarapé Uxicará, área importante para lazer e convivência.

“Dentro da Sapopema, pelo projeto Povos, Rios e Florestas, a gente tem esse componente de reflorestamento, que foi uma demanda das próprias comunidades. Elas tinham áreas que viam essa necessidade”, explicou Neriane Nascimento, pesquisadora da Sapopema. “O reflorestamento está ligado à recuperação de lagos com frutíferas, que são alimentos para peixes. Onde tem floresta alagada, tem peixe, e peixe de qualidade. Então, reflorestar essas áreas é recuperar também os estoques pesqueiros e o equilíbrio ambiental”, destaca. 

O grupo de mulheres, formado por 25 integrantes, vem atuando em parceria com a Sapopema e com a Feagle, Federação das Associações de Moradores e Comunidades da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Elas implantaram um viveiro comunitário com produção de mudas de cumaru, tucumã, andiroba, muruci, caju e outras espécies nativas e frutíferas.“Somos 25 mulheres trabalhando para reflorestar o manejo e a área do igarapé da comunidade”, contou Daisy Canter Pereira, coordenadora do grupo.  “Era um sonho que hoje está sendo realizado com parceria da Sapopema. A mata está sendo muito desmatada e precisamos reflorestar a nossa Amazônia.”

A iniciativa mobiliza toda a comunidade. Cerca de 50 pessoas participam do viveiro, entre mulheres, jovens e homens que auxiliam no plantio e na manutenção das mudas. O reflorestamento é visto como parte de uma estratégia maior de desenvolvimento comunitário, que valoriza a cultura local e promove a conservação ambiental. “A matéria-prima que usamos é toda da floresta — urucum, mangarataia, açafrão, genipapo, capiranga, cragirú — tudo natural. Produzimos mandalas, cuias, descansos de panela, jogos de copos, balaios e suplás.”, ressalta a coordenadora que também faz planos para as mudas frutíferas: “vão servir para fazer sucos e cremes, e também para oferecer aos visitantes. O turismo e o artesanato trazem renda para as famílias e fortalecem o grupo. É um trabalho que vem passando de geração em geração.”

O espaço do viveiro se tornou um símbolo de resistência na comunidade. As mudas representam o início de um ciclo que pretende unir sustentabilidade, geração de renda e turismo de base comunitária.

“A gente tinha uma carência muito grande desse projeto e agora começamos a desenvolver. Já temos cerca de 50 pessoas envolvidas” - Florencio Souza Gama, morador há 50 anos.

“Aqui a gente enche os saquinhos com adubo, faz a plantação das sementes. Já temos 1.711 mudas e é uma grande alegria realizar esse sonho” - Maria Nilva da Silva Dias Vasconcelos, moradora de Vila Brasil.

A recuperação do igarapé Uxicará é outro foco da iniciativa. O local, importante ponto de encontro da comunidade, está sendo revitalizado para se tornar um espaço de convivência e atração turística. “Pretendemos fazer a limpeza do igarapé para que volte a ser um ambiente saudável e receber os amigos para tomar banho”, contou Maria Isabel, moradora de 60 anos.

A Feagle acompanha as ações e apoia o fortalecimento do grupo, destacando o protagonismo feminino e a importância da iniciativa para a defesa do território.“Vila Brasil vinha tentando se articular para construir um projeto comunitário. A parceria com a Sapopema permitiu implantar um viveiro coletivo de mudas frutíferas e de reflorestamento, liderado por um grupo de mulheres artesãs”, destacou Marlon Rebelo, diretor da Feagle.

A proposta de reflorestamento apoiada pela Sapopema envolve diferentes frentes. Na terra firme, como em Vila Brasil, a ação busca recuperar áreas degradadas e enriquecer a floresta com espécies nativas e frutíferas. Já nas regiões de várzea, como Piracaoera de Cima e Vila de Arapixuna, o foco é recuperar as margens de lagos, plantando árvores que servem de alimento para os peixes e fortalecem os ecossistemas aquáticos e terrestres.