Sapopema emite Nota Técnica sobre panorama da seca no baixo Amazonas

Documento identificou como comunidades ribeirinhas estão sendo impactadas pela estiagem severa

Um levantamento realizado com coordenadores de núcleo de base da Colônia de Pescadores Z-20 em Santarém, possibilitou identificar como as consequências das mudanças climáticas têm afetado as comunidades de várzea do baixo Amazonas. Participaram do estudo integrantes das regiões: Arapixuna, Aritapera, Ituqui, Urucurituba, Tapará, Maicá, Lago Grande, Arapiuns, Tapajós e Santarém (cidade). A nota técnica foi elaborada pela equipe técnica da Sapopema com o apoio do Mopebam e da Colônia de Pescadores Z-20.

A área onde as comunidades estão localizadas é denominada de mesorregião do Baixo Amazonas do Estado do Pará, que possui uma extensão de 315.843 km², compreendendo quatorze municípios (Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Santarém, Alenquer, Curuá, Faro, Terra Santa, Óbidos, Oriximiná, Juruti, Itaituba, Aveiro e Novo Progresso). Nesta região existem 33.508 pescadores e pescadoras.

A maioria das comunidades localizadas nesta área são territórios que se encontram na região da várzea e caracterizam-se pela diversidade de atividades que compõem a economia familiar, os quais têm a pesca como atividade principal de sua fonte de renda, pois, o pescado é capturado tanto para consumo quanto para comercialização. Em algumas comunidades existem experiências de manejo pesqueiro, que têm um papel importante na economia familiar das comunidades manejadoras.

Na região do Baixo Amazonas e Tapajós os pescadores e pescadoras têm expressado em sua percepção que as mudanças percebidas estão relacionadas aos fenômenos provocados pela questão climática, por isso, enfatizam que sentem o aumento do calor nos lagos, dificultando o exercício eficaz da atividade da pesca, além disso, tem prejudicado o cultivo de plantações de ciclo curto. Percebem ainda, o acelerado aumento da seca como resultado aumentando a distância do local para deixar as embarcações e prejudicando a conservação do peixe.

“Hoje em dia as coisas estão muito difíceis com a captura dos peixes. Chega esse tempo a gente tem que plantar alguma coisa, pra poder ajudar na sobrevivência no dia a dia da gente. A quentura está afetando os nossos plantios, as terras estão fracas. Muita quentura que transforma a nossa produção muito fraca” - destacou o Coordenador do núcleo de base da comunidade Piracãoera de Baixo, Urucurituba.

Resultados

Na percepção dos pescadores e pescadoras existem diferentes impactos causados na atividade da pesca nas comunidades e regiões, a situação diferencia-se uma da outra, 50% das percepções diz respeito que o impacto é causado pelo aumento da seca nos lagos, prejudicando a captura dos peixes, pois, estes mudam de local, em algumas comunidades os peixes acabam morrendo.

Os dados representam informações de 74 comunidades, que totalizam aproximadamente 6.250 famílias. Dentre as comunidades mapeadas, 97,3% já foram afetadas pela seca.

Os pescadores relatam que a seca tem ocasionado diversas dificuldades múltiplas para a sobrevivência das famílias. 43 comunidades apontaram que estão enfrentando 04 ou mais dificuldades nesse cenário de seca.

Dentre as dificuldades mais citadas como decorrentes da seca, a dificuldade para pescar (22,2%) é mais citada entre os entrevistados, seguida pela dificuldade de alimentação de suas famílias (20,5%). Como as comunidades pesqueiras têm sua alimentação baseada no pescado, a dificuldade para realização de suas pescarias geram dificuldades para obtenção da alimentação.

Como também há dificuldade de transporte, citada em 13,9% das respostas obtidas, isso agrava também a dificuldade de alimentação, pois atrapalha a obtenção de alimento em outras comunidades ou na cidade. Em terceiro lugar, a dificuldade de acesso à água foi a mais citada (16,7%). Com o nível dos rios muito baixo e a carência de sistemas de abastecimento de água nas comunidades pesqueiras, o acesso à água torna-se bastante difícil nesse período, sendo exacerbado em anos de seca extrema, como o ano atual (2023).

A dificuldade por água na região do Baixo Amazonas, assim como em toda região norte, é um problema histórico. O problema de acesso à água pelas comunidades ribeirinhas vem se agravando como resultado das graves alterações climáticas. 

Dentre as comunidades pesqueiras mapeadas, 75,7% delas tiveram a atividade pesqueira afetada pela seca. Em alguns relatos, os pescadores apontam que estão pescando somente para o consumo familiar. Com a pesca prejudicada, a renda proveniente desta atividade também é comprometida, deixando essas famílias mais vulneráveis social e economicamente.

Leia a nota na íntegra.