Nove escolas da Flona do Tapajós participam de treinamento para uso de coleção didático-pedagógica sobre peixes do Tapajós

Intervenção piloto foi realizada na comunidade Maguari na Floresta Nacional do Tapajós e integra formação interdisciplinar para popularização da ciência e regionalização do conteúdo 

No último sábado (01), vinte e sete professores da educação básica do município de Belterra participaram da formação e a aplicação piloto do projeto de popularização do conhecimento sobre a diversidade de peixes da bacia do Tapajós na comunidade Maguari, na Floresta Nacional do Tapajós. A iniciativa reúne a UFOPA (PPGSND, ICTA e Coleção Ictiológica), a Sapopema, a TNC, o Mopebam, colônias de pescadores e secretarias municipais de educação, com o objetivo de regionalizar o ensino e aproximar a ciência da realidade das comunidades ribeirinhas.

Os educadores participaram de uma formação teórica e prática para o uso dos produtos que compõem a coleção didática — o jogo da memória, o caderno de atividades, o livro para colorir, o guia ilustrado de peixes — além de um mapa interativo, que permitirá identificar os nomes populares das espécies em cada comunidade. As nove escolas participantes, vinculadas à Secretaria Municipal de Educação de Belterra, iniciarão o uso desses materiais em sala de aula já a partir de 2025.

A pesquisadora Samela Bonfim, do PPGSND/UFOPA, explica que o momento foi de integração entre ciência e saberes locais. “Essa é uma fase estratégica, em que professores da educação básica tiveram acesso a materiais didático-pedagógicos construídos de forma participativa, unindo universidade e pescadores. Essa troca gera uma ponte entre o conhecimento científico e o saber tradicional.”

O orientador da pesquisa, o Professor Dr. Frank Raynner Ribeiro explica que o material apresentado é resultado também da articulação entre pesquisa científica e educação básica. “Nós estamos apresentando um material didático que reúne o conhecimento científico sobre a diversidade de peixes do baixo e médio rio Tapajós, especialmente aqueles que compõem o acervo científico da coleção ictiológica da nossa universidade”, afirmou.

A popularização da ciência garante a uma maior integração entre a universidade e a sociedade, ressalta Wandicleia Lopes, professora da UFOPA e pesquisadora da Sapopema. “Os materiais que usamos nas escolas geralmente não têm um contexto regional. Esse projeto traz um conteúdo amazônico, que valoriza a fauna, a flora e a cultura da pesca, fortalecendo a educação ambiental e a alfabetização com base na nossa realidade.”

Ele destaca que a Amazônia abriga a maior diversidade de peixes do planeta, e grande parte desse conhecimento ainda permanece restrito ao meio acadêmico. “Esse material, produzido durante o doutoramento de uma das pesquisadoras do nosso grupo, tem justamente o objetivo de aproximar a ciência das escolas da nossa região, levando o conhecimento científico sobre a biodiversidade aquática para a sala de aula.”

Do polo Maguari, Rosete Carvalho, ressaltou que o projeto dialoga com o cotidiano dos alunos. “Os nossos estudantes já têm um conhecimento sobre a pesca, por viverem na região do Tapajós. Esse material vem somar, ampliando o que eles já sabem e valorizando o aprendizado que vem da vivência.”

O gestor Genilson do Carmo, do polo Santa Terezinha, na comunidade Piquiatuba, destacou o potencial de continuidade do trabalho. “Com certeza, esse projeto vai fortalecer o ensino-aprendizagem e ajudar nossos alunos a conhecer melhor a própria realidade. É algo que vai acompanhar todo o ano letivo.”

O encontro em Maguari marcou o início das intervenções no Tapajós. A perspectiva é que em 2026 o trabalho seja expandido com o apoio do Projeto Águas do Tapajós, contemplando a devolutiva dos dados coletados nas fases anteriores, numa parceria entre a TNC e o Instituto de Ciências e Tecnologias das Águas, conta a especialista em conservação da The Nature Conservancy (TNC), Elizabete Matos. “Nosso objetivo é que as informações sobre a diversidade de peixes, geradas pela pesquisa científica, cheguem de volta às comunidades. Assim, elas podem usar esse conhecimento nas decisões sobre o manejo e a conservação dos recursos naturais.”

Experiência piloto no Amazonas

O projeto de popularização do conhecimento sobre a diversidade de peixes do Tapajós iniciou suas atividades piloto em outubro de 2025, com a primeira intervenção realizada na comunidade São Benedito, na Costa do Tapará, região do PAE Tapará, em Santarém. Na ocasião, professores da escola local aplicaram os materiais didático-pedagógicos da coleção — jogo da memória, caderno de atividades, livro para colorir e guia de espécies — com turmas do 1º ao 9º ano, marcando o início de uma estratégia de regionalização do ensino voltada à educação ambiental e valorização da cultura pesqueira ribeirinha.

Metodologia de desenvolvimento 

A experiência de criação dos produtos resultou também em um artigo científico recentemente publicado na revista Sustainability (MDPI), que descreve a metodologia utilizada para transformar os dados da Coleção Ictiológica da UFOPA em materiais educativos sobre os peixes do rio Tapajós. O estudo demonstra como as coleções científicas podem se tornar ferramentas pedagógicas valiosas para o ensino de ciências e a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, conectando conhecimento acadêmico e saberes locais. O trabalho é fruto da pesquisa da discente do PPGSND/UFOPA Samela Bonfim, sob orientação do Prof. Dr. Frank Raynner Vasconcelos Ribeiro, com colaboração de pesquisadores do Laboratório de Ictiologia da UFOPA.

Fotos: Evaldo Peres/Sapopema.